quarta-feira, 18 de maio de 2016

Por que a depressão pós-parto, que atinge 15% das mães, ainda é tabu


Estima-se que metade das mulheres que sofrem com a doença permanecem em silêncio, sem diagnóstico ou tratamento 


Semanas depois do nascimento do primeiro filho, a publicitária Amanda Rodrigues de Oliveira, 25 anos, foi tomada por um sentimento de angústia e culpa. Uma sensação devastadora, que não condizia com as expectativas que a mãe de primeira viagem tinha de como seria a maternidade. 
  

Lembro que, às vezes, ele não conseguia parar de chorar. Então, o colocava deitado na cama, deitava junto ao lado dele e chorava também. Aquilo ia me consumindo – recorda. 


A gravidez não planejada de Enrico, hoje com um ano e sete meses, foi marcada por altos e baixos que continuaram mesmo depois de tê-lo nos braços. Foi ainda durante a gestação que ela começou a questionar se aquele momento seria o certo para ter um filho e se ela seria uma boa mãe. Em casa, Amanda não conseguia se conectar emocionalmente com o filho como esperava. Com isso, veio a tristeza. A intensidade da rotina de mãe de um recém-nascido a pegou de surpresa: Amanda estava constantemente irritada e sofria com a privação do sono. O relacionamento de seis anos com o marido ficou por um fio. Cansada daqueles sentimentos que se intensificavam com o passar do tempo, decidiu que ia procurar ajuda e foi desabafar em um grupo de mães no Facebook


– Fiz de sangue doce, relatei o que eu sentia e depois decidi participar de terapia em grupo. Não achava que aquilo era depressão pós-parto – recorda. 


A história de Amanda é parecida com a de outras tantas mães que deparam com uma tristeza constante, culpa e angústia incessantes durante o puerpério. Falar de depressão pós-parto é tratar de um assunto que ainda é estigmatizado, mas afeta entre 10% e 15% das mulheres até o primeiro ano após o nascimento do bebê. 


De acordo com um estudo publicado em 2009 no The Journal of Perinatal Education, estima-se que metade das mulheres que sofrem com a depressão pós-parto permanecem em silêncio, sem diagnóstico ou tratamento. Entre os motivos está a vergonha de se sentir incapaz ou frustrada naquele momento ou o medo de ficar separada do bebê devido a qualquer comportamento. Em ocasiões extremas, a mulher pode cogitar o suicídio. Algumas acreditam que é um cansaço normal e acabam ignorando os sintomas mais drásticos que chegam com o tempo. 


– É difícil para uma mãe admitir que tem algo errado, que está deprimida, em um momento em que todos esperam que se tenha só felicidade – diz Giana Frizzo, professora da UFRGS e coordenadora de um centro de atendimento a famílias com bebês na instituição.  

Muito além do baby blues


Até 80% das mães com filhos recém-nascidos podem sentir uma melancolia, mas que dura por cerca de seis semanas. Essa fase é chamada de baby blues, ou blues puerperal. Os termos em inglês remetem ao momento do nascimento do bebê, acompanhado de expectativas, medos e ansiedade sobre a mudança de vida que a chegada de uma criança implica. 
Os sintomas incluem variação do humor, tristeza, ansiedade, dificuldade de concentração e dependência da criança ou de algum familiar. Nem sempre ocorre com mães de primeira viagem. Mulheres podem desenvolver a doença após o nascimento dos filhos mais novos. 


 – É normal a mulher se questionar: "Como que vai ser a minha vida?", "Será que tudo isso valeu a pena?". Esses pensamentos são comuns e, na maior parte dos casos, passageiros. Não precisam de tratamento, fazem parte do processo. A tendência é de que a mulher vá melhorando e que, em até seis meses, tudo já esteja normalizado – explica Marco Antonio Caldieraro, coordenador do Departamento de Psiquiatria Clínica da Associação de Psiquiatria do RS. 

Quando esses sentimentos devastadores se agravam e persistem é que há indícios de depressão pós-parto. Entre os fatores mais relacionados às causas da doença estão as alterações biológicas, como a flutuação hormonal, e as condições sociais, econômicas e psicológicas durante um período de novidades na vida da mulher e da família. Ambos podem colaborar para o agravamento ou o desenvolvimento de um quadro depressivo. 

 Durante a gravidez, o organismo produz altas quantidades de hormônios, que atuam no sistema nervoso central. Dois deles são o estrógeno, que serve para estimular o crescimento do miométrio uterino (uma das camadas da parede uterina), e a progesterona, essencial para a manutenção da gravidez, sustentando o endométrio (o revestimento interno do útero). Após o parto, o nível dessas duas substâncias cai drasticamente. 

Atriz Brooke Shields escreveu livro sobre a depressão pós-parto em 2010Foto: Ver Descrição / Ver Descrição

Diversos estudos já abordam os fatores sociais que influenciam na saúde mental de mulheres no período pós-natal e que transcendem os aspectos biológicos. Uma socióloga da Universidade do Kansas, nos Estados Unidos, em seus estudos, cita a pressão social que exige das mães um papel de super-heroínas, o que elevaria os riscos de desenvolver transtornos psicológicos. 


A idealização social de como deve ser a maternidade aumenta as expectativas e pode gerar frustrações. Mães que não conseguem amamentar, por exemplo, sofrem com a culpa de não poder atender a uma necessidade do bebê. Também é frequente a sensação de que o controle sobre a própria vida foi perdido, já que a prioridade é cuidar do filho. "Mulheres de classe média tentam fazer tudo para equilibrar a vida profissional e pessoal. A pressão pode exacerbar certas condições de saúde mental. Se tudo não está perfeito, elas se sentem fracassadas. E mães, geralmente, internalizam essa culpa" afirma Carrie Wendel-Hummell, da Faculdade de Assistência Social da Universidade do Kansas.  


 Acompanhamento psicológico poderia ajudar a evitar novos casos
O silêncio sobre a depressão pós-parto reacende uma série de debates em torno da maternidade. A saúde mental das mulheres durante e após a gravidez algumas vezes é subvalorizada durante o pré-natal e depois dos primeiros meses do nascimento da criança. Uma preparação mais realista e informativa sobre a rotina de cuidar de um recém-nascido feita por profissionais ajudaria a esclarecer essas dúvidas e diminuir os riscos de desilusões. 


– Ainda há muita idealização e um certo romantismo em torno do que é a maternidade. É importante falar sobre essas questões com o médico que está fazendo o pré-natal ou o acompanhamento. Até mesmo o pediatra pode dar esse auxílio. Mas é algo que deve ser conversado. No Brasil, também vemos que há um medo de se expor ao participar de terapias em grupo, e vemos que isso melhora a relação da mãe com o bebê – avalia a psicóloga Giana Frizzo. 


No caso de Amanda, as sessões de terapia junto a Enrico foram um aspecto essencial para a recuperação. 


– Em uma sessão individual após o atendimento em grupo, me mostraram um vídeo em que eu aparecia no primeiro encontro. Não conseguia brincar com ele, que pedia colo e eu mal olhava. Na gravação das últimas sessões que participei, já foi muito diferente, eu parava de falar para dar atenção ao meu filho, olhava para ele – relembra.


Tratamento pode exigir uso de medicação 

A doença também pode causar o afastamento da família. A depressão pós-parto pode abalar as relações em casa e o vínculo afetivo com os filhos, uma das maiores preocupações das mães. 



– Se não houver tratamento, (a depressão pós-parto) pode prejudicar a relação entre mãe e filho. Uma criança que não tem um cuidador saudável está sob risco. Uma mãe com depressão pós-parto pode ficar mais irritada facilmente com ela mesma e até achar que o filho chora de propósito para tirá-la do sério. Algumas preocupam-se que aquele amor todo de mãe ainda não veio – explica Giana. 


Por isso, a indicação é buscar atendimento psicológico logo nos primeiros sinais de tristeza, irritabilidade e falta de atenção, para que se comece um tratamento ou terapia de recuperação. A ajuda dos familiares também é fundamental durante esse período: a presença das pessoas mais próximas para a divisão de tarefas e apoio são bem vistos pelos profissionais de saúde. Em certos casos, medicamentos e antidepressivos são indicados após o diagnóstico.


– Nem todos os casos precisam de medicação. Mas os remédios indicados são os mesmos para qualquer caso de depressão. Hoje, há remédios seguros para serem usados durante a amamentação ou a gravidez – afirma o psiquiatra Marco Antonio Caldieraro. 

Fonte:http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/vida/noticia/2016/03/por-que-a-depressao-pos-parto-que-atinge-15-das-maes-ainda-e-tabu-5099685.html

Você já ouviu falar em depressão pós parto?

Este mal acomete muitas mulheres, independente da classe social. Na realidade a depressão pós-parto não possui uma única causa. São fatores físicos, emocionais e de tipo de vida que podem influenciar de alguma forma no aparecimento do problema.
As alterações físicas são causadas principalmente pela queda abrupta dos hormônios estrogênio e progesterona. Só esta queda hormonal já pode causar uma depressão. Mas outros hormônios como os produzidos pela glândula tiroide caem drasticamente também, provocando tristeza e cansaço. Como se não bastasse, logo após o parto o volume de sangue, pressão arterial, sistema imunológico e o metabolismo sofrem alterações provocando fadiga e instabilidade de humor.
Diante deste turbilhão de alterações de hormônios ainda existem os fatores emocionais que comumente se abatem sobre as mulheres após o parto. O estresse, a pressão do dia-dia somado a falta do sono regular, ajudam a desestabilizar a mãe.
O problema atinge cerca de 30% das mulheres e é serio, deve ser tratado com cuidado e carinho. A depressão pode prejudicar muito a relação entre mãe e filho, é normal algumas mulheres sentirem que o bebe é um fardo, principalmente mães muito jovens. Mas não se assuste que tudo isto conduzido com sabedoria, passa e a mulher volta ao normal.
Quando tive meu primeiro filho aos 19 anos, lembro que muitas vezes eu olhava aquela criaturinha chorando sem parar  e sentia raiva, pois ele me tirava do convívio do meu marido, dos amigos, eu tinha que estar sempre cuidando dele. Na época este sentimento me fazia muito mal, me fazia sentir um ser anormal. Como é possível sentir raiva de um bebe e ainda por cima de seu bebe??? Só depois de me informar sobre o assunto e com o carinho do meu marido e da família tudo passou e fui e sou até hoje uma mãe dedicada e cheia de amor pelos  meus filhos.
Vou passar umas dicas que podem ajudar a passar por este período da vida com sucesso.
Dependendo da gravidade do caso o tratamento precisa ser através de medicamentos  próprios para esta fase que não prejudica a amamentação, o médico poderá ajudá-la.
Uma terapia conduzida por um bom profissional também pode minimizar bem a situação e ajudar a mulher a saber lidar com o problema.
O apoio familiar é peça chave neste momento, é preciso que todos que convivem com a mulher tenham consciência do problema e que possam auxiliar no tratamento. Com um tratamento certo ela poderá retornar a sua rotina habitual mais rápido.
Não existe uma formula que possa prevenir ou prever uma depressão após o parto. Mas a gestante que tem o carinho e apoio dos familiares e amigos durante a gestação, se não tem nem uma complicação e passa por este período de forma tranquila e feliz, suas chances de não ter o problema são grandes.

Fonte: http://humanizandoparto.com.br/voce-ja-ouviu-falar-em-depressao-pos-parto/