quinta-feira, 31 de março de 2016

Saúde mental feminina: o que mais afeta o equilíbrio psíquico das mulheres

 
As mulheres, assim como os homens, são afetadas pelas doenças mentais. Mas questões relacionadas ao gênero feminino as tornam mais vulneráveis. A boa notícia é que a prevenção é possível.
Uma citação bem humorada atribuída a Freud diz que, antes de aceitar um diagnóstico de depressão, é preciso certificar-se de que a pessoa não está rodeada por idiotas. Não foi possível confirmar se o pai da psicanálise é o autor dessa máxima. Mas o fato é que, quando o assunto é saúde mental das mulheres, entre as quais a depressão é duas vezes mais comuns quando comparadas aos homens, há uma premissa que se assemelha a essa epígrafe. Segundo o psiquiatra Hewdy Lobo Ribeiro, membro da equipe do Programa de Saúde Mental da Mulher, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (ProMulher-IPq/HCFMUSP), “antes de diagnosticar a depressão, é o médico que deve certificar-se de que os sintomas descritos pelo paciente são, de fato, de natureza psíquica”.

A relevância do diagnóstico

Ribeiro explica que, para alcançar esse objetivo, é preciso descartar a presença de algumas doenças que leva à manifestação de sintomas similares, o uso de substâncias passíveis de abuso, além de uma possível simulação para fins legais, entre outros fatores.
Uma vez superada essa etapa de observação e definido o diagnóstico, as pacientes do ProMulher gozarão de uma estrutura que atua na área da pesquisa e do ensino e ainda disponibiliza atendimento multidisciplinar para transtornos relacionados à vida reprodutiva: menarca, gravidez, pós-parto, climatério e menopausa. E a doença mais incidente nessas fases é também a depressão.
A importância desse serviço é que atende a uma demanda que abrange pessoas que convivem com a doença, usam medicamentos e desejam engravidar, ou aquelas que, em decorrência do parto, desenvolvem-na. Ribeiro esclarece que a depressão pós-parto é mais comum do que se imagina. Mas por uma questão cultural, é camuflada. Apesar disso, são muitas as mulheres que não conseguem amamentar, oferecer os cuidados básicos ao bebê e até se relacionar com seus parceiros durante o período da gestação e mesmo depois dele. O médico acrescenta que a única maneira de mudar a grande demanda por esse tipo de atendimento psiquiátrico é a informação. “O tema deveria integrar os currículos escolares. Imagine uma campanha de sensibilização como a da desidratação. Hoje, esse tipo de caso é uma exceção. Quanto à saúde mental, deveria ocorrer o mesmo: educar para o reconhecimento de sintomas e intervenção precoce”, diz. Leia a entrevista com o psiquiatra Hewdy Lobo Ribeiro.
 
ENTREVISTA

O que é ter uma doença mental?

Trata-se de uma condição que leva à limitação das capacidades funcionais. Para o paciente, há uma restrição de ter e sentir bem-estar, e isso prejudica sua performance profissional como um todo e, além disso, afeta suas relações sociais e com a família, pois ele não as consegue amadurecer. O que a pessoa vivencia é uma dificuldade de desfrute da vida em geral.

Por que a mulher  é tão vulnerável?

Do ponto de vista biológico, ela está sob os efeitos das oscilações hormonais que ocorrem na menarca, gestação, climatério e menopausa. Mas este não pode ser considerado um fator exclusivo. A herança genética é relevante. Filhos de um dos pais que tenha doença mental terá maior chance de apresentar o problema. Se o pai e a mãe tem depressão, o risco aumenta ainda mais. Dessa forma, o fator hormonal é um dos elementos biológicos, assim como o genético, mas questões ambientais e sociais influenciam o quadro. Mulheres com menor escolaridade estão mais vulneráveis porque têm menos qualidade de vida (o que inclui a alimentação e condições de trabalho fora e em casa), e ainda têm pouco acesso ao tratamento e diagnóstico precoces.

Para elas, é mais fácil pedir ajuda?

Aparentemente, as mulheres admitem o sofrimento com mais facilidade do que os homens. E ele é enfrentado de uma forma mais dolorida, o que as leva a reconhecer o problema e a aceitar ajuda. Já os homens tendem a resistir mais, têm uma percepção reduzida dos prejuízos que a doença mental traz à própria vida. Esse comportamento, a médio e longo prazo, levam a danos graves que poderiam ter sido evitados caso admitissem, por exemplo, a depressão ou a dependência alcoólica. Some-se a isso o fato de que as mulheres são maioria na procura por auxílio em qualquer especialidade médica. Há uma cultura machista de que a busca por apoio é um tipo de fraqueza inadmissível na ala masculina. Felizmente, isso está mudando.

Quais as causas mais comuns?

São psíquicas e emocionais. Antes de concluir um diagnóstico, porém, o especialista deve descartar a presença de alguma doença física. A anemia tem como manifestações a tristeza, o desânimo, a falta de energia. Esses sinais parecem depressão, mas a origem é a anemia. O hipertiroidismo causará ansiedade, insônia, desconforto físico. O uso de substâncias como medicamento (hidrocortisona, dexametasona) e drogas de abuso (álcool, maconha) também. E ainda pode ser que o mal-estar se relaciona aos contextos pessoal, familiar ou profissional, o que nos leva às causas relativas. Acrescente a essa lista uma possível sugestibilidade do paciente que convive com uma pessoa psicótica (folie a deux – “loucura a dois”, em francês, é uma síndrome psiquiátrica muito rara na qual um sintoma de psicose é transmitido de um indivíduo para outro.), bem como a simulação da doença para obter vantagens legais. Descartadas essas possibilidades, buscaremos as causas. E elas são multifatoriais: genética, ambiental (familiar e trabalho) e até o clima.

Quando é hora de procurar ajuda?

A pessoa experimenta um conjunto de dificuldades psíquicas, emocionais e de relacionamento, mas a conversa com o amigo ou o líder espiritual não alivia o desconforto emocional. A pessoa percebe que tem dificuldade para resolver os problemas no trabalho e para atender às necessidades da família e às de seus relacionamentos. Enfim, a hora certa é toda vez que houver dúvida e dificuldade em vivenciar o bem-estar, bem como quando as tentativas de superação não levaram a uma melhora significativa.

O que esperar do tratamento?

Deve ser multidisciplinar, combinando o uso de medicamentos, psicoterapia, orientação nutricional e educação física. Entretanto, é preciso dizer que os primeiros não são isentos de efeitos colaterais. Quando o paciente começa a usar a medicação, ficamos atento à falta de relato de algum efeito colateral, pois cogitamos a possibilidade de ser um fármaco fraudado. A boa notícia é que sabemos como esses efeitos se manifestarão. Geralmente, obedece à seguinte sequência: o paciente tende a piorar inicialmente para, depois, começar a melhorar. Esta é uma característica desse tipo de remédio. Contudo, as pessoas esperam que ele tenha ação semelhante à um analgésico. Mas, na psiquiatria, os fármacos não tem efeito imediato. Será necessária a espera de duas a quatro semanas para que possamos observar uma evolução positiva. Antes, porém, haverá uma piora inicial.

Isso repercute na adesão à terapia?

Não existe aderência plena. As dificuldades começam com indicações equivocadas de profissionais leigos e até de especialistas desatualizados, passam pelas tentativas de tratamento por meio de benzedura, banhos termais, até o receio dos efeitos colaterais – que de fato acontecem -, como o ganho de peso. Uma parte dos fármacos tem esse efeito. Mas o paciente precisa saber que eles podem ser substituídos por outros “menos engordantes”.

A beleza vem antes do bem-estar?

Na verdade, o paciente se vê envolvido em várias questões. Nos casos considerados mais graves, o tratamento deve ser feito em médio e longo prazos. E eles querem receber alta precoce. E há ainda a dificuldade de deslocamento, os pedidos de saída do trabalho. E quando tudo isso pode ser contornado, indicamos também a estratégia de manutenção – mesmo na ausência dos sintomas, o medicamento precisa ser mantido para prevenir recaídas.

Então, as recaídas são comuns?

Sim, nos casos moderados a graves. Nos leves, após o devido tratamento, há restabelecimento e, em geral, não há necessidade de retomá-lo. No ProMulher, as pessoas se enquadram na complexidade grave. E elas terão alto índice de recaída. A maioria recebe o tratamento e segue a vida. Mas ressalto que mesmo pacientes que estão em tratamento e não apresentam sintomas podem ter uma recaída.

E o que é considerado grave?

São os casos em que os cuidados ambulatoriais, o que exclui a internação, não levam a uma melhora. Porém, nas últimas duas décadas as opções medicamentosas aprimoraram sua eficiência. Assim, o uso de fármacos, somados à psicoterapia, trazem resultados mais rápidos e duradouros. Dessa forma, a gravidade se estabelecerá a partir de necessidade de tratamento intensivo. isto é, retornos semanais ao ambulatório ou internação hospitalar. Aqui, no ProMulher, os casos mais graves são aqueles em que há risco de suicídio, ferimentos autoinduzidos ou quando a pessoa deixa de atender às demandas da vida: cuidados com a higiene pessoal, falta de energia, tristeza intensa, ausências no trabalho, negligência com os filhos, não os atendendo em suas necessidades básicas.

O que leva a esses ferimentos?

Algumas doenças desencadeiam comportamentos em que as mulheres se machucam em locais visíveis, como a mão e o rosto; ou escondidos, como o abdome. Esse sintoma pode ocorrer na maioria dos transtornos mentais, e especialmente nos transtornos da personalidade, destacando-se entre eles, o borderline. Nele, há particular dificuldade de conter impulsos agresivos contra si e os outros.

Dá para prevenir doença mental?

Sim, por meio do que chamamos de prevenção secundária. Há dois tipos de prevenção: a primária, aquela que faz uma avaliação antes do início da doença – uma mamografia para identificar um câncer de mama, por exemplo. E a secundária, na qual não se realizam testes, mas decorre do esclarecimento das pessoas sobre determinada patologia psíquica. Isso inclui os profissionais de todos os níveis, que devem estar prontos para detectar esse tipo de sintoma, em toda e qualquer avaliação. Nesse caso, o que ocorre é uma busca ativa da doença, ainda que o motivo da consulta tenha outro objetivo. A prevenção secundária é uma forma de antecipar um diagnóstico por meio da informação – para o paciente e o médico. Ambos se sentem estimulados a procurar por sinais correspondentes, mesma que a consulta não tenha essa finalidade.
 
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Fonte: por Cristina Almeida / Hewdy Lobo Ribeiro, psiquiatra, membro da equipe do ProMulher, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-FMUSP) / Viva Saúde – Ed – 138
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quarta-feira, 16 de março de 2016



Metaforicamente nossos “joelhos existenciais” começam a  tremer  diante das fissuras ocorridas no âmago da alma, no entanto, é possível voltarmos inteiros, mas transformados.
Deijone do Valle



A sua mente é, e continuará sendo, um lugar de desejos, enganos, medos, motivações e fantasias, caso você não a discipline e a tenha  sob controle.

E uma forma brutal e comum de minar a autoestima, seus valores morais e éticos, é deixá-la passiva. 


Conhece a síndrome da passividade?

Compreender sua mente e o funcionamento dos mecanismos de defesa do ego, é o primeiro passo para uma boa defesa dos ataques que esta sofre contínua e persistentemente.

Nossa existência basicamente é moldada pela mente, e a palavra chave é equilíbrio, para a manutenção da saúde física e mental.

Vivemos a era da insatisfação, as pessoas são bombardeadas por padrões de comportamentos distorcidos, imagens idealizadas, atributos físicos inacessíveis, valores questionáveis, status virtuais e uma série de imposições que ditam modelos impossíveis de serem alcançados.

Mas o que é mesmo violência?

Violência é o abuso da força, seja física, psicológica, moral, patrimonial e sexual.

Na verdade, a violência é representada por ações e ou omissões, que fragilizam o  psiquismo de maneira cruel, forçando a vontade do outro, submetendo-o pela oposição ao direito e à razão.

E o que dizer da violência conjugal?

Daquelas agressões físicas que marcam a pele e deixam o olho roxo?

Ah! Você é daqueles que se silencia, como no famoso jargão popular: “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher...”

Lá se foi o tempo em que a violência conjugal poderia ser um problema privativo do ambiente doméstico e silenciado entre as quatro paredes do domicílio, do lar doce lar.

Tudo mudou, os gritos são ouvidos, a polícia é acionada e os tribunais também.

Posso dizer sem medo de errar, que briga de marido e mulher é uma questão social e de saúde pública, sabia?

Atualmente temos leis que pretendem mudar conceitos, posturas e atitudes. Lei Maria da Penha?

Daqui a algum brevíssimo tempo, teremos também a Lei João da Rocha, concorda?

Maridos também apanham e apresentam lesões corporais. É cada arranhão! Cruzes!

Os parceiros de certa forma estão degladiando e nem percebem com clareza as agressões que praticam e promovem um contra o outro, são dois íntimos inimigos, que vão adoecendo numa mutualidade que fere, arranha, morde, desrespeita e leva a relação para o fundo do poço.

Quantos casais vivem uma ciranda viciosa de brigas intermináveis, discussões infindáveis, xingamentos, acusações de toda ordem, que ofende a dignidade da relação conjugal.

O interessante é que estes casais levam um tempo enorme para perceberem que estão brincando na fronteira da morte, e o cenário dessa violência psicológica a qual são submetidos, dá os sinais de seus efeitos nocivos não apenas na saúde do casal, mas dos filhos e da sociedade.

Vivemos em uma sociedade repleta de desajustados emocionais, onde se vê o sofrimento estampado nos olhos do vizinho, do colega de trabalho, do conhecido e do desconhecido que cruza a rua.

Uma verdadeira epidemia de dores emocionais e psicológicas.

Identificar os sinais da violência não basta, a difícil tarefa fica por conta da devastação da alma e das consequências dessa violência na vida das pessoas e que lhes rouba a alegria de viver.

Não se padroniza sofrimento, este é sempre singular e surpreendente, é algo que subtrai a espontaneidade, diminui o diálogo, e devassa a autoestima e a autonomia.


Prevenir ou punir? Intervir?

O que responder, diante de um cenário difícil, onde impera o desrespeito, a omissão, a insatisfação, a dominação, a infidelidade, a opressão e a desqualificação na competência sexual, pessoal ou profissional?

O panorama é de uma violência disseminada em todas as esferas da sociedade e que não escolhe classe social, grau de instrução, religião ou cultura.


A intolerância é a marca registrada na vida conjugal contemporânea, daqueles que atravessam os limites da ponderação e do bom senso e cruzam a linha divisória, mergulhando fundo em ações de cunho violento, caracterizado por espancamentos, gritarias e por fim, polícia.

Casamentos marcados por intolerância é um típico navio naufragado, onde precisa ser ajudado, pois intolerância gera incomunicabilidade, ações negativas, como socos, pontapés, tapas, mentiras, acusações, tiros, facadas e todo o tipo de ação deletéria que no final resulta numa ruptura psicótica, como é o caso do suicídio.

Os vínculos desfacelados e empobrecidos afetivamente, ampliam o distanciamento entre os casais, manifestado pelo desinteresse, pelo desprezo ou pelo ciúme patológico, isolamento social, impaciência, uso de drogas e bebidas alcoólicas em exagero, traições e que culmina numa crescente desnutrição psicológica da relação afetiva.

O desinteresse afetivo leva a uma inversão e deslocamento da emoção saudável, por exemplo, viver sexo compulsivo, poderá gerar transtorno alimentar (comer ou beber demais), depressão, como consequência da violência psicológica.

Cadê a compaixão? Cadê a empatia? O diálogo, a tolerância, a paciência e o respeito?

Ás vezes será necessário buscar ajuda profissional, familiar e espiritual.

Estes embates físicos e emocionais desencadeiam um vazio psicológico, destruindo o compromisso humano de família e sociedade, acentuando os padrões manipulativos de dominação e desamor, tornando-se uma relação perigosa, de adoecimento e de morte.

É comum a instalação de processos depressivos em um dos casais, ou em ambos, e não apenas no aspecto físico e psicológico, mas comprometendo toda a existência.

É aquele marido que mergulha no trabalho e não que voltar para casa, ou aquela mulher desconfiada e invasiva, tudo se torna conflituoso e as cobranças e acusações mútuas, transformam a existência em um fardo insuportável para ambos.

É necessário interromper o ciclo de violências, de atitudes iradas, espírito crítico, recriminações e ataques constantes contra o outro, pois isto provoca um verdadeiro tormento emocional de frustração e ressentimento, um círculo extremamente vicioso.

Responda por favor: Se eu pudesse perguntar ao seu cônjuge o que você está fazendo de errado, o que ele me responderia?

É preciso saber! Não adivinhe... pergunte!

E de uma vez por todas, pare de remoer pensamentos amargosos, tipo: Ele não me ama...; Não consigo acreditar que ele foi capaz de fazer isso comigo...; Nunca o perdoarei.

Substitua esses pensamentos por pensamentos agradáveis, bondosos e afetuosos: Bem, ele parece que está mudando...; É difícil, mas posso superar...; Vou perdoá-lo.

Amargura é um veneno para o casamento, é como um rastilho de pólvora pronto para  explodir nas ocasiões mais impróprias e inesperadas, o que amplia a chance de separação e divórcio.

E o que dizer de pensamentos vingativos e de retaliação? Pare... enquanto é tempo. Não deixem que criem raízes.

Vou te dar uma dica: Todas as vezes que você tiver vontade de dar o troco, faça algo  bom para o outro: engraxe os sapatos dele; lave o carro dela; faça o doce preferido dele; mande-lhe um buquê com as flores prediletas dela.

Faça isso até aprender a perdoar e superar seu estresse emocional e depois faça por puro prazer.


Não tome decisões ou fale coisas por impulso, persevere em manter o equilíbrio e nada de ficar cultivando a autopiedade que é um gatilho para a depressão.

Aprenda a desenvolver a paciência, com um espírito perdoador e respeitador, nada de berros,  baixaria  ou quebrar inofensivos objetos do lar, não é mesmo?


Mantenha a educação, fale com firmeza, mas com classe e afeto, e nada de ironias desnecessárias e provocativas, seja cortês e polido, você só tem a ganhar, mantendo padrões razoáveis de honra e respeito pelo outro.

E finalmente, busque a paz, a violência gera apenas perda, e como expressou o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre: “A violência, seja qual a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota”.



Deijone do Valle
Neuropsicóloga

http://portalneuropsicologia.blogspot.com.br/2015/10/violencia-conjugal-manipulacao.html

quarta-feira, 9 de março de 2016

Mulher Moderna: acúmulo de papéis pode afetar a saúde mental feminina

O desempenho concomitante de diferentes funções é uma das características marcantes da mulher contemporânea. Mãe, esposa, profissional, cidadã, mulher; inúmeros são os papéis assumidos pelo público feminino desde a sua emancipação. Não obstante, a pressão imprimida pela indústria da “beleza”, para o alcance de padrões estéticos cada vez mais distantes da realidade, atua como fator adjunto à sobrecarga emocional. Diante disso, o grande desafio é aprender como manter a saúde mental e, principalmente, a qualidade de vida apesar dos diversos agentes internos e externos que contribuem para o surgimento de transtornos emocionais e mentais femininos. Que atitude a mulher deve adotar para vencer o desafio diário de conciliar diferentes tarefas de maneira satisfatória? Na avaliação da psicóloga especialista em Psicologia Clínica Hospitalar, Ana Paula Brasiliano, por mais que a sociedade imponha uma construção de modelo ideal feminino, não existe uma atitude ou uma receita que possa garantir que a mulher consiga a satisfação plena. “Uma vez que consideramos o sujeito como um ser faltante, o caminho seria uma melhor convivência com essa falta”, pondera.
Muito mais que cansaço e estresse, a múltipla jornada pode desencadear sérios problemas à saúde mental feminina. Entre os casos mais comuns aparecem os transtornos ansiosos e depressivos, como explica o psiquiatra e psicanalista Gabriel Ferreira Câmara. “O estresse é uma palavra vaga, é importante buscar suas motivações. Já a ansiedade é uma resposta natural do ser humano ante as vivências. A emancipação feminina de fato mudou a forma de atuação da mulher na sociedade. Desempenhar muitas atividades ao mesmo tempo pode gerar ansiedade e até angústia, que provoca sensações como palpitação e aperto no peito (a pessoa angustiada sente tudo isso). Há momentos em que a ansiedade se torna grave. Então, quando ela se torna um fator que altera a qualidade de vida e interfere na rotina de forma intensa, é preciso buscar a ajuda de um especialista que vai avaliar a forma mais adequada de terapia para aliviar essa sobrecarga. O mesmo vale para a depressão, pois a vida deixa de seguir o seu curso normal. Hoje o arsenal de medicações para o tratamento dos transtornos psiquiátricos aumentou”, informa.
O médico explica que as mulheres se mostram mais propensas a desenvolverem transtornos de ansiedade, como síndrome do pânico e fobias simples, porque a subjetividade se apresenta de maneira diferente entre os gêneros, tendo uma maior incidência entre as pessoas mais jovens. “As motivações são sempre muito particulares. Qualquer pessoa está passível de sofrer um transtorno mental em alguma fase da vida, por questões internas e externas. O que ocorre é que a mulher tem mais acesso aos seus conteúdos emocionais, expressando mais livremente a sua emotividade do que o homem que, por exemplo, aprende desde cedo que ‘homem não chora’ porque é um sinal de ‘fraqueza’. A nossa cultura ainda permanece machista e isso é internalizado desde a infância”, avalia.
A depressão é outra doença predominante entre o público feminino. “Esta é uma desordem psiquiátrica muito mais comum do que se imaginava. Pesquisas indicam que o número de casos de depressão em mulheres é muito superior do que em homens”, afirma a psicóloga Ana Paula Brasiliano. Apesar disso, as pessoas ainda encontram dificuldade em diferençar o estado deprimido e a depressão. Para o diagnóstico de depressão foram criados alguns critérios no DSM IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 4ª edição) baseados numa lista de sintomas - além do estado deprimido - que devem ter uma intensidade e duração. “A depressão é diferente do estado deprimido. Estar somente triste não significa que se tem depressão. Até porque os sintomas da depressão interferem significativamente na qualidade de vida. Somente um especialista pode fornecer um diagnóstico preciso”, reforça a psicóloga. Mas, como os familiares devem agir ao perceberem que a mulher está vivenciando uma dificuldade emocional? A especialista lembra que os transtornos à saúde mental trazem um sofrimento psíquico não só para quem sente e vive a doença, mas se estende para toda família, o que pode gerar conflitos e até encobrir os sintomas. “É importante que os familiares estejam atentos para as mudanças de conduta e favoreçam a busca de uma ajuda profissional. Contudo, o contexto familiar em que a mulher se encontra, a maneira como ela se relaciona com essas pessoas e se ela própria deseja ajuda são pontos importantes a serem refletidos”, observa.
Embora não seja um fator determinante, o histórico familiar deve ser um sinal de alerta para mulheres com casos de doenças psiquiátricas na família. A hereditariedade não significa uma certeza de torná-las mais propensas a desenvolverem esses problemas, pois fatores culturais, econômicos, familiares, comportamentais e psicológicos também estão envolvidos no processo de estabelecimento dessas doenças, segundo a psicóloga. “É possível perceber a existência de alguns sintomas, porém estes podem ser confundidos com outras alterações de comportamento, além da depressão e transtornos alimentares. Portanto, é relevante a busca de um profissional especializado para que seja adotado o tratamento adequado nesses casos. Na verdade, se torna importante que a mulher reconheça que precisa de ajuda e não pode se curar sozinha” observa Ana Paula Brasiliano.
Entre as formas de terapia disponíveis para os problemas mentais estão a psicoterapia e, a depender do caso, o acompanhamento psiquiátrico, quando for necessário o uso de medicações regulares. “Não importa a abordagem teórica em que o psicólogo se oriente (psicanálise, cognitivo comportamental, junguiana, gesltat, transpessoal) e sim como o profissional direciona o tratamento”, ressalta Ana Paula Brasiliano. Ela lembra que as pessoas buscam diferentes receitas para aplacar a própria angústia e de preferência que estas “caiam no colo” de forma rápida. Contudo, acabam frustradas já que a representação da autoestima é muito particular. “O que pode ser significativo para uma mulher pode não ter a menor importância para outra. Essa definição totalmente subjetiva acaba sendo complexa, pois não tem a ver somente com o amor próprio, mas também com a exigência da sociedade moderna que está sempre sofrendo modificações. O fortalecimento da autoestima pode não estar apenas associado à correspondência das demandas externas e ser socialmente reconhecido, mas efetivamente aos anseios pessoais”, reflete a psicóloga.
De modo geral, a recomendação médica é de que os acompanhamentos psiquiátrico e psicológico sejam de longo prazo, com duração mínima de um ano. Nas situações em que é recomendado o acompanhamento psiquiátrico a prescrição do uso de medicamentos para tratar a saúde mental da mulher deve ser avaliada caso a caso, de acordo com Gabriel Ferreira Câmara. “O paciente e o médico juntos devem perceber a terapia mais adequada. É indicado manter a medicação que a mulher apresenta melhor resposta e retirar o remédio apenas de forma gradativa”, observa o especialista, informando que as medicações comumente usadas são os antidepressivos. “O paciente não deve se automedicar, bem como, não deve decidir sozinho quando interromper o tratamento”, alerta.
Diante de tantas pressões e responsabilidades, afinal, qual o caminho para a mulher manter a qualidade de vida? Para Gabriel Ferreira Câmara a mulher deve buscar reconhecer seus desejos e suas limitações. “Não existe uma receita de bolo. Por isso, a mulher precisa encontrar dentro de si o que a torna feliz. Ela deve descobrir seus anseios, o que considera importante, buscar suas respostas”, considera o médico, que manda outro recado para quem está passando por dificuldades emocionais. “Se a mulher perceber, em algum momento de sua vida, que está num nível de ansiedade muito intenso e que isto está fugindo ao seu controle, ou se ela está muito triste e desinteressada pela vida, é interessante que procure um profissional para uma consulta e acompanhamento adequado. No tratamento será possível avaliar a necessidade de usar um suporte medicamentoso ou não. É importante que a paciente vença os próprios preconceitos”, conclui.
TRANSTORNOS ALIMENTARES
Menos comuns do que outras doenças mentais que afetam as mulheres, os transtornos alimentares também oferecem danos importantes à qualidade de vida feminina. De acordo com estudos, transtornos como anorexia e bulimia nervosa atingem 1% das mulheres entre 18 e 40 anos, sendo aproximadamente dez vezes mais comuns em mulheres que em homens. Esses transtornos, devido à busca incessante pelo corpo perfeito, afetam de forma significativa a sociedade contemporânea. As adolescentes, em processo de formação psicológica e emocional, muitas vezes são “bombardeadas” por modelos de estética difundidos pelas mídias, tornando-se vulneráveis ao problema. “A anorexia nervosa geralmente tem início na adolescência, período marcado por transformações, quando a menina passa pela aceitação de ser mulher. Nessa doença, a autoimagem é totalmente distorcida da realidade. A mulher olha no espelho e se vê acima do peso, o que motiva a ideia fixa de emagrecimento”, explica o psiquiatra e psicanalista Gabriel Ferreira Câmara. Para a psicóloga Ana Paula Brasiliano “existe um colapso dos ideais e uma tirania de valores, o que gera sofrimento psíquico diante do ideal frustrado”.